Genocídio indígena na literatura

Livro

A colonização europeia na América foi um processo de genocídio. Sendo curto e grosso. E é preciso começar a tratar a questão dessa maneira nos bancos escolares. Pois, o que aconteceu, foi a tentativa de varrer da face da Terra, todo um povo. Essa é a história que conhecemos no livro Jasy y Kurahy: genocídio guarani, do paraguaio Gino Canese. 

A obra é um romance que mescla ficção e fatos históricos. Através dela, acompanhamos a história de amor entre a jovem Jasy (lua) e o também jovem Kuarahy (sol). A união dos dois promove a aliança entre duas tavas, duas grandes aldeias ou, como diz o texto, tribos. Esta palavra se encontra em desuso entre os estudiosos e quem a pronuncia, hoje em dia, revela o quão distante está da discussão sobre os povos indígenas. Não é por menos, o livro foi publicado em 2000, há mais de 20 anos. De qualquer maneira, não tenho conhecimento de como anda esse debate no Paraguai, assim, não há porque falar mais sobre isso.

Mas, como em todo romance, o amor dos dois encontra um obstáculo. São os espanhóis, que começaram a colonizar a região próxima ao rio Paraguai, em meados do século XVI. Pacífica, no seu início, a relação entre população nativa e colonizadores, logo se converte em uma catástrofe.

Gananciosos, os espanhóis requisitavam comida, madeira para construção, trabalho braçal e, principalmente, mulheres. Oferecidas pelos seus pais como um sinal de amizade, as jovens guarani passaram a ser agarradas à força e a servir no acampamento espanhol como faxineiras, cozinheiras e amantes. Este acampamento, logo se transforma em um forte, que dará origem, no futuro, à cidade de Assunção, capital do Paraguai. Um dos colonizadores, naqueles entonces, se interessa muito pela beleza de Jasy, e aí começam os problemas do casal indígena.

Acompanhando a história, conhecemos o modo como os colonizadores agiram para exterminar o povo guarani, que decidiu reagir e expulsá-los quando já era tarde demais. Apesar da sua superioridade numérica, os indígenas não foram páreos para as armas de fogo e as armaduras europeias. Mas não puderam sobrepuja-los, principalmente, por um motivo, a traição. Sempre havia algum guarani disposto a espionar e revelar os planos de ataque aos espanhóis.

As doenças dos brancos completavam o serviço de extermínio. Derrubando milhares de guarani, que não tinham imunidade para elas. A aliança com povos inimigos dos guarani foi outro fator que levou à vitória aos espanhóis. Aos guarani, só restou buscar refúgio em outras partes do continente. Verdadeiras levas migratórias acompanhavam os rios que correm no centro da América do Sul, como o Paraguai, o Paraná e outros.

O livro, lá pelas tantas, se esquece, bruscamente, de Jasy e Kuarahy e entram outros personagens. O casal do início some e a narrativa salta no tempo, para meados do século XVII. Entram em cena os padres jesuítas e os bandeirantes. E a luta guarani por sobrevivência continua. O narrador, em alguns momentos, abandona a história e começa a fazer uma denúncia dos danos que o processo colonial causou aos povos originários e aos futuros países que se formaram nessa região do globo. Nessa parte, ele abandona um pouco a literatura. De qualquer forma, é uma ótima fonte para aprender história da América do Sul e cultura guarani também.

Não encontrei uma versão em português do livro. Li a original, em espanhol. É possível acha-lo em pdf na internet, foi como eu fiz. Vale a pena a leitura. Muito obrigado e até a próxima!

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