Ajuricaba: quadrinho conta história de líder indígena amazônico.

Por Rafael

No final de 2020 fiquei sabendo, através de um compartilhamento de rede social, sobre uma História em Quadrinhos chamada Ajuricaba, que contava a história do indígena de mesmo nome que liderou uma guerra de cinco anos contra os portugueses na região da Amazônia. Fiquei muito curioso e encomendei a HQ.

Capa de Ajuricaba.

Publicada pelo selo Black Eye Studio, o livro possui cerca de 130 páginas de quadrinhos em preto e branco. Escrita por Ademar Vieira, com arte de Jucylande Júnior, a história nos apresenta Ajuricaba, filho do cacique do povo Manao, que mais tarde tomará o lugar de seu pai e enfrentará os portugueses em uma guerra sangrenta e desleal.

A arte estilizada e os contrastes muito bem feitos constroem o clima da história. Que é pesado, como pesado foi o massacre sofrido pelos povos amazônicos no período da conquista europeia. Onde os portugueses adentravam a floresta e invadiam as aldeias, executando pessoas sumariamente e acorrentando homens, mulheres e crianças, sem nenhuma cerimônia. A obra consegue mostrar de forma crua a realidade vivida pelos povos originários do Brasil.

Ajuricaba, o líder do povo Manao, obtém sucesso quando consegue, por um período de tempo, unificar todos os povos da Amazônia numa aliança poderosa, que encarou de igual para igual as forças portuguesas. As rivalidades entre os indígenas, até então, havia sido habilmente manipulada pelos conquistadores para levar adiante o projeto colonial.

Enfim, do povo Manao, hoje em dia, resta muito pouco, nada mais que algumas palavras do seu idioma, como informa o material complementar no final da HQ. O nome da cidade de Manaus, capital do Amazonas, foi escolhido em sua homenagem, talvez para nos lembrar do genocídio cometido nesse país e esquecido por muitos. Equívoco que o livro Ajuricaba vem para corrigir.

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Samaúma: o chamado da floresta

Capa do livro

Samaúma é o nome de uma árvore encontrada na floresta amazônica, de tronco muito alto – ultrapassando o dossel da floresta – e raízes tão largas que seria possível entalhar uma casa nelas. Samaúma também é o nome da história em quadrinhos de autoria de Fabio Gimovski, lançada, recentemente, através de um financiamento coletivo, pela plataforma Catarse.

Samaúma: o chamado da floresta conta a história de Ravi, um rapaz da cidade grande que, de repente, é assaltado por sonhos enigmáticos. Às vezes, ouve seu nome ser chamado, outras, está caminhando em uma floresta e, outras ainda, está conversando com um pajé. Uma angustia começa a tomar o seu coração, durante o dia. Então, com a ajuda de uma amiga, decide descobrir o que os sonhos significam. Sua busca o levará para o interior do Acre, onde, em meio a floresta amazônica, se encontrará com o povo shanenawa.   

Uma das páginas do livro

O autor optou por uma espécie de metalinguagem, que nos faz pensar que ele conta sua própria história, a de alguém que escreveu um livro sobre suas experiências com os shanenawa. E parece que o objetivo principal do trabalho é apresentar as histórias desse povo, contadas ao jovem Ravi pelos seus representantes. Nelas, ficamos sabendo da origem dos shanenawa e de como eles descobriram o poder da bebida uni.

A história ainda faz menção à realidade que vivemos no Brasil atualmente, de devastação dos biomas e ataques aos povos indígenas. E nos apresenta um outro modo de vida, uma outra visão de mundo em relação à natureza, que é a dos povos originários, onde os valores são muito distintos aos da sociedade industrial capitalista.

Para saber mais sobre o autor: https://fabiogimovski.org/

Para saber mais sobre o povo shanenawa: https://www.indios.org.br/pt/Povo:Shanenawa    

Post relacionado: https://yvycomics.com/2019/01/20/os-indios-de-andre-toral/

Povos Indígenas em Quadrinhos

Por Rafael.

cacique raoni

Recomendado pelo amigo Guilherme Smee, conheci o álbum Povos Indígenas em Quadrinhos. Lançado em 2012, pela editora Zarabatana Books, a obra é de autoria de Sérgio Macedo, quadrinista brasileiro com larga carreira na França (tendo realizado trabalhos até na lendária revista Metal Hurlant), cujo trabalho, acredito, deveria ser mais conhecido pelos brasileiros.

Como o título sugere, o livro é um minucioso documentário, em forma de história em quadrinhos, sobre a verdadeira epopeia de alguns povos indígenas do Brasil pela sobrevivência. Sérgio Macedo, que levou mais de uma década na elaboração da obra, optou por uma arte em estilo realista. Nas suas belas pinturas de acrílica sobre papel, ele usou, como referência, fotos de jornais, revistas e de amigos, reforçando o aspecto de documentário da obra.

Povos Indígenas em Quadrinhos traz a história dos povos Yanomami, Xavante, Kayapó, Suruí e Panará, e mais um capítulo sobre a formação do parque indígena do Xingu. Nas epopeias desses povos, uma coisa em comum. O contato com a civilização branca lhes trouxe a morte, seja ela em forma de doenças desconhecidas, violência pura e simples, álcool, prostituição ou perdendo as terras para a mineração ilegal ou legal. A obra traz, também, a lembrança de nomes conhecidos da luta indígena, o antigo deputado xavante Mário Juruna, o célebre cacique Raoni dos Kayapó e o líder yanomami Davi Kopenawa.

Conhecemos a tragédia que assolou o povo judeu durante o regime nazista, mas lendo este livro, aprendemos que, nos interiores deste imenso país, longe dos olhos da população das cidades, outros povos travaram, e travam, uma luta feroz pela sobrevivência, física e cultural.

povos indígenas em quadrinhos

A obra de Sérgio Macedo, nos ajuda a conhecer e respeitar um outro Brasil (o que é o Brasil?), que muitos se recusam a aceitar. Mas ele próprio não se recusa a continuar existindo.

Outras obras que trazem a temática indígena brasileira: