Xondaro: a dança do guerreiro

A entrada do novo governo brasileiro, nesse início de 2023, pode trazer alguns avanços para as condições de vida dos povos indígenas, como a fundação do ministério dos povos indígenas e a proibição do garimpo em suas terras. Se compararmos com os anos de Bolsonaro, onde massacres indígenas eram até incentivados, podemos aceitar que estamos navegando com ventos favoráveis.

Porém, lembremos que, mesmo nos primeiros governos PT, a luta indígena por direitos não parou. Desde que os conquistadores europeus pisaram nestas terras em que vivemos, os povos originários sofreram e continuam a sofrer a perda de direitos a seus territórios e à sua cultura. Se, agora, as instituições dos homens brancos os olham com algum respeito, amanhã, não temos como saber. A única certeza é a luta. E podemos conhecer um pouco dela na obra de Vitor Flynn Paciornik, Xondaro.

Trata-se de uma História em Quadrinhos, publicada em 2016 pela editora Elefante, em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo. Através de 60 páginas coloridas, ela apresenta a narrativa de um casal de anciãos Guarani Mbyá, que explicam a história de resistência de seu povo para um grupo de jovens.

Durante a narrativa, o autor nos apresenta momentos recentes da trajetória de luta do povo Guarani Mbya de São Paulo, mais precisamente, ações ocorridas entre os anos de 2013 e 2014. O que nos mostra que, mesmo na maior metrópole do país, os povos originários continuam existindo e mantendo suas tradições e modo de vida.

A arte aquarelada de Paciornik é muito delicada e bonita, representando, em detalhes, as casas de barro dos guarani e outros aspectos da aldeia. O autor mantém um blog na internet, o Quadrinhos B, onde se dedica a postar suas artes e projetos em desenvolvimento.

Conheça essa excelente publicação, apóie o quadrinho nacional e os povos indígenas. Até a próxima!

Publicidade

Página 8

página de história em quadrinhos
Eva perde o sono e deixa o cotiguaçu (casa grande, onde ficavam os órfãos).

Página 3

página 3 de yvytu
Eva, no campo, fazendo o que mais gosta.

Kriança Índia: Brancos, fiquem longe da floresta!

“A gente não precisa matar pessoalmente um branco pra ficar contente. Basta o branco morrer que tá tudo bem”. Essa fala da personagem principal de Kriança Índia dá um pouco do tom dessa obra lançada em 2021 pela editora Guará. No melhor estilo nazi lives don’t matter todos os agentes da destruição da floresta amazônica são sumariamente executados. Caçadores, madeireiros e ruralistas encontram seu fim na lança da Kriança Índia.

A personagem criada por Rafa Campos e desenhada por Álvaro Maia é uma criança indígena sem um etnia definida, nem gênero. Como um espírito protetor, ela enfrenta todos os perigos que ameaçam a floresta, acompanhada de seus amigos Kavera, um macaco com cabeça de caveira, e Peçonha, um porco-espinho que lança espinhos venenosos. O livro traz diversas histórias curtas que vão se entrelaçando e contando um pouco da vida da Kriança Índia, de como ela foi encontrada e criada por Matinta Pereira, a bruxa do folclore brasileiro.

O roteiro de Rafa Campos consegue nos brindar com muitas sequencias de ação e, ao mesmo tempo, apresentar a trama que liga todas as partes do livro. Sem falar nas diversas referências à conjuntura política atual, com vilões como Regininha Ruralista, Ministra Danaris, o miliciano Sales e aparições de membros da família Bolsonaro.

É bom lembrar que essa hq já se envolveu em polêmica quando entrou no radar das hordas bolsonaristas na internet. Kriança Índia e seus autores, bem como outros artistas e obras, saíram em uma matéria de um blog de apoiadores de Bolsonaro. Apresentados como assassinos em potencial, o texto tentava chamar a atenção das autoridades sobre os artistas.

Quanto às artes, Álvaro Maia imprime uma variedade de estilos, que deixa a leitura ainda mais dinâmica. Ora prevalecendo as hachuras, ora os grandes contrastes de preto e branco. Com um traço muito orgânico, ele dá um ar fanzineiro à publicação, o que combina muito com a história e deixa a obra ainda mais coesa.

Kriança Índia é uma catarse para todos e todas que tremem de indignação com a devastação e genocídio levados à cabo por um governo comandado por milicianos, garimpeiros, madeireiros e demais escória que precisa ser varrida da nossa sociedade.

Para adquirir o livro, você pode entrar no site da editora Guará.

Samaúma: o chamado da floresta

Capa do livro

Samaúma é o nome de uma árvore encontrada na floresta amazônica, de tronco muito alto – ultrapassando o dossel da floresta – e raízes tão largas que seria possível entalhar uma casa nelas. Samaúma também é o nome da história em quadrinhos de autoria de Fabio Gimovski, lançada, recentemente, através de um financiamento coletivo, pela plataforma Catarse.

Samaúma: o chamado da floresta conta a história de Ravi, um rapaz da cidade grande que, de repente, é assaltado por sonhos enigmáticos. Às vezes, ouve seu nome ser chamado, outras, está caminhando em uma floresta e, outras ainda, está conversando com um pajé. Uma angustia começa a tomar o seu coração, durante o dia. Então, com a ajuda de uma amiga, decide descobrir o que os sonhos significam. Sua busca o levará para o interior do Acre, onde, em meio a floresta amazônica, se encontrará com o povo shanenawa.   

Uma das páginas do livro

O autor optou por uma espécie de metalinguagem, que nos faz pensar que ele conta sua própria história, a de alguém que escreveu um livro sobre suas experiências com os shanenawa. E parece que o objetivo principal do trabalho é apresentar as histórias desse povo, contadas ao jovem Ravi pelos seus representantes. Nelas, ficamos sabendo da origem dos shanenawa e de como eles descobriram o poder da bebida uni.

A história ainda faz menção à realidade que vivemos no Brasil atualmente, de devastação dos biomas e ataques aos povos indígenas. E nos apresenta um outro modo de vida, uma outra visão de mundo em relação à natureza, que é a dos povos originários, onde os valores são muito distintos aos da sociedade industrial capitalista.

Para saber mais sobre o autor: https://fabiogimovski.org/

Para saber mais sobre o povo shanenawa: https://www.indios.org.br/pt/Povo:Shanenawa    

Post relacionado: https://yvycomics.com/2019/01/20/os-indios-de-andre-toral/

Guarani

Por Rafael.

guarani

Recentemente, meu parceiro de projeto YVY, o Ricardo Fonseca, me mandou um link para uma História em Quadrinhos sensacional que vou resenhar minimamente aqui pra vocês.

A chamada Guerra do Paraguai, salvo exceções, é pouco tratada nos quadrinhos nacionais, porém, temos aqui essa bela obra dos argentinos Diego Agrimbau (roteiro) e Gabriel Ippóliti (arte) que trata desse tema de grande importância para a história do Conesul.

A obra se chama Guarani e traz as aventuras do fictício fotógrafo francês Pierre Duprat que acompanha o exército argentino até o coração da República Paraguaia. Duprat é especialista em registrar povos nativos e o seu modo de vida, carrega consigo várias fotos tiradas na África. Ele quer encontrar representantes do povo guarani para aumentar seu acervo fotográfico. Ao chegar ao seu destino, acaba conhecendo profundamente a cultura e o modo de vida guarani.

Porém, durante esse caminho, se depara com o horror que foi a Guerra do Paraguai, conhecida pelos paraguaios como Guerra Grande. Em especial, testemunha a horrenda batalha que ficou conhecida como Batalha de Acosta Ñu, Acontecida no final do conflito, quando o exército paraguaio já não contava com mais soldados para continuar lutando, apelando, dessa forma, para o recrutamento de crianças. Nesse dia, milhares de soldados da Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai) enfrentaram um contingente paraguaio composto por menores de 15 anos na sua maioria. A pouca idade dos soldados paraguaios não diminuiu a vontade de lutar de seus inimigos, terminando, então, numa carnificina atroz. O exército brasileiro era comandado pelo Conde D’Eu, de nacionalidade francesa, casado com a princesa Isabel.

Duprat bem que tenta registrar aquela vergonhosa “batalha”, porém lhe foi ordenado pelo Conde D’Eu que destruísse esses registros, ficando, assim, esquecido na história brasileira esse absurdo protagonizado pelo nosso exército. A Batalha de Acosta Ñu se deu no dia 16 de agosto de 1869, nessa data é celebrado o Dia da Criança no Paraguai.

Na verdade, não existe uma edição brasileira dessa HQ, tive acesso a uma versão “pirata”, cujo link, para fins não-lucrativos, deixo aqui.

Até a próxima!

 

O Despertar

Vinheta de quadrinhos

Página 2 de “Êxodo”! Aqui vemos nossa personagem despertando de um sonho. Ela passa o resto do tempo pensando no seu significado. Na cultura guarani, a leitura e interpretação dos sonhos é muito importante, influenciando na vida da comunidade e nas suas decisões, nos nomes das crianças, entre outras coisas. Acompanhe a página aqui.